quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Texto no cabide: Espelhos


Tenho um pedaço de espelho quebrado, pendurado no banheiro, não sei quem o quebrou. Talvez o autor esteja destinado a anos de azar. Não quero me atentar a isso. Quero sinalizar que estou insatisfeito com o espelho. É pequeno, a iluminação do banheiro acaba por insatisfazer ainda mais o ato de olhar a própria imagem.
Desço a ladeira da rua em poucos metros e, no restaurante azul da rua seguinte há um espelho entre duas portas que dão para os banheiros, masculino e feminino. Lavo as mãos, não para exaltar assim minha preocupação higiênica, mas para garantir mais tempo em frente ao espelho. Ali me vejo, um outro diferente do espelho da minha casa. O cabelo parece sempre mais comportado, e o rosto um pouco mais definido. A noite quando desço para tomar sopa esse espelho não funciona mais, o problema também está na iluminação, que nesse momento não é a mesma do meio dia.
Recorro por fim ao espelho da farmácia, utilizo sempre como pretexto a preocupação com o peso. Subo na balança que fica em frente ao espelho e fico minutos prolongados me vendo e, por vezes, arrumando o Black Power. De início a atendente me olhava com estranheza, hoje já trata com normalidade, principalmente quando alego querer comprar balas de gengibre. Não dá pra contestar, esse último espelho é o meu preferido, dá pra ver dos pés até o mais alto frizz de cabelo.