terça-feira, 4 de novembro de 2014

Texto no cabide: Antônia

Outras vezes a vi ali sentada, impaciente olhando para TV, quem sabe esperando o momento certo de mandar desligar aquele aparelho perturbador.
Duas tentativas eram o suficiente para levantar daquele sofá rebaixado. Em passos acelerados para a cozinha, tangendo o gato que subira na mesa ela avistava da porta dos fundos as ovelhas a caminho do curral.
Um descuido qualquer com a tramela e o fogão de lenha se cobria de galinhas inseguras que esperavam o praguejamento final para saltar dali em cacarejos paralelos.
Antônia estava cansada da quebra de rotina ocasionada no mês de junho, mais ainda das pessoas que estavam ali com ela.
A filha não ajudava em nada, a neta chorava o tempo todo. Deveria Antônia ser sincera e falar que não precisaria mais de companhia nas férias de janeiro? A filha se sentiria um pouco ofendida com isso.
Talvez um aumento do uso do cachimbo pudesse ali sinalizar a insatisfação cotidiana e o desejo por estar só, ali no seu canto, no banco da cozinha, a olhar pro teto esfumaçado e os espetos pendurados.