terça-feira, 30 de setembro de 2014
terça-feira, 23 de setembro de 2014
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
domingo, 21 de setembro de 2014
Texto no Cabide: Pensamento de meio fio.
Lucas Alves, Recorte da obra "Partes de mim", 2013, Óleo sobre azulejo. |
"Olhei para o canto com encanto, vi você assim perto/longe.
Sorri e fugi. Hoje espero um novo encontro.
Talvez me vejas com outros olhos ou com os mesmos. Tomara que me vejas bem, assim, com um novo sorriso. Se me deres permissão te buscarei, ou melhor, te enviarei um cartão postal com meu endereço, assim dou a chance de um dia você me achar."
Sorri e fugi. Hoje espero um novo encontro.
Talvez me vejas com outros olhos ou com os mesmos. Tomara que me vejas bem, assim, com um novo sorriso. Se me deres permissão te buscarei, ou melhor, te enviarei um cartão postal com meu endereço, assim dou a chance de um dia você me achar."
{Rua do Chafariz}
terça-feira, 2 de setembro de 2014
Texto no cabide: Velas para escrever
Tentando controlar a barulhenta respiração eu empurrei a porta, acompanhado de um leve ranger que penetrava meus ouvidos de forma agressiva. A loja parecia estar vazia. O silêncio era interrompido a cada três segundos por pingos de água que caiam da gaiola do pequeno pássaro que estava com os olhos fechados. Num insignificante descuido a chave que estava presa em minha mão cai ao chão. O pássaro assustado canta como se estivesse avisando que um estranho havia chegado.
Do
balcão, escondido, ele gritou:
-
Posso ajudar em alguma coisa meu jovem?
- Apenas vi que na vitrine tinha velas a venda, eu disse.
- Apenas vi que na vitrine tinha velas a venda, eu disse.
-
Problemas com energia outra vez?
- Na
verdade não, prefiro escrever a luz de velas quando já é madrugada.
O
velho levantou de onde estava, erguendo-se em direção a uma prateleira do lado
direito. Enquanto isso acontecia, eu andava lentamente entre a loja. Em seguida
sem nenhum contato visual eu falei para ele:
-
Se importaria se eu levasse as velas da vitrine? Não que eu seja chato, mas...
-
As velas da vitrine estão empoeiradas e há um bom tempo ali expostas. Não vejo
vantagens nisso.
-
Eu sei. Só queria as velas que vêem as pessoas da rua passar.
-
Já que insiste tanto, porque não pega você mesmo?
Me
aproximei do balcão, peguei as chaves da mão dele e fui em direção a vitrine.
Um gato de olhos bem brilhantes se esbarrou e entrelaçou entre minhas pernas.
Tentando me equilibrar, sorri, e me engrandeci por não ter levado uma queda.
-
O que é isso Nino, quer derrubar o moço? O velho Francisco falava, acariciando
o gato que agora já estava sobre o balcão balançando o rabo suspenso.
Velas
a mão, insisti em continuar olhando em toda a loja. Algo me chamou atenção
antes de qualquer objeto que pudesse comprar ali. Ele, Sr. Francisco em um tom
de voz ameaçador perguntou:
-
É tudo isso que precisa?
Com
olhares desatentos para os lados eu disse, sem hesitar:
-
Não. Preciso de algo mais.
-
Então, o que deseja?
-
Peço-lhe que me conte, por que guardou esse segredo por tanto tempo?
Ele
arregalou os olhos, engoliu com dificuldade a saliva, respirou fundo e não
falou mais nada. Depois de algum tempo quieto e assustado ele questionou?
- Quem é você? Do que você está falando?
- Quem é você? Do que você está falando?
Sorri
como quem sabia de muitas verdades, me ergui até a gaiola onde estava o
pássaro, e o libertei da prisão. Em seguida, em tom sarcástico eu falei:
-
Você já deveria ter feito isso há muito tempo, não acha? A liberdade é uma das
melhores coisas que um homem pode ter, e melhor ainda quando é acompanhada de
uma consciência livre. Vejo que o seu caso é bem diferente.
Francisco
tangeu o gato que estava no balcão, e se aproximou com dificuldade até onde eu estava,
no meio da loja, olhando para um espelho. Nós ali estávamos, os dois olhando
para a imagem que refletia, ambos buscando comparações que talvez estivessem ali
escondidas entres as rugas e a dor.
As
lágrimas desceram dos meus olhos quando perguntei:
-
Por que nunca quis me conhecer pai?
Não
esperei a resposta, mesmo que há tempos quisesse ouvir. Segurei as velas,
limpei as lágrimas e saí dali.
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