Capacete
Tamires Lima, negra, amante do seu black
power, Designer e Ilustradora.
Ter o cabelo Black bem redondinho é o sonho de muitos. E
como sabemos Black não esquenta (até protege do sol) e ao contrário do que se
pensa ele é levinho, é um cabelo nuvem. Já o capacete é uma armadura. Pesado e
rígido nos protege também. Mas o que acontece quando usamos os dois? O cabelo
amassa e fica no molde do capacete-armadura. E ainda tem quem diga que nosso
cabelo-nuvem é armado. Na verdade ele é tão dócil que está sempre a mercê
dessas coisas que colocamos em cima dele. Pois então, para devolvermos a sua
forma nuvem original, sugiro o cafuné com os dedos ou usar o pente-garfo que
penteia sem desfazer os cachos. Eu uso capacete o tempo mínimo necessário e
deixo meu cabelo solto logo. Pois ter cabelo Black é não querer apaziguá-lo
dando forma bruta a ele. É atitude de sair por aí com sua forma original, e
como diz a expressão “com a cabeça nas nuvens”.
Lorena Morais, jornalista, autora do blog
Encrespando, defende a identidade natural do cabelo crespo.
Ao concluir a graduação e realizar minha formatura, pensei
como eu iria fazer para usar o capelo, já que meu cabelo black power é bem
volumoso. Pensei em trançá-lo ou usar um turbante, para caber na cabeça, mas
pensei o quanto meu cabelo representa resistência para mim. Pensei que a
formatura deve se adaptar a nós e não a gente a ela. Por isso fui com meu
cabelo volumoso disposta a encarar o que fosse. Mas mesmo assim pensei: e se
não der na minha cabeça? Mas aí fui e na hora de experimentar, eis a surpresa:
o capelo coube em minha cabeça! Aí descobri que ele tem um ajuste, ou seja,
vamos todas e todos de Black Power na formatura para causar. Nós podemos!
Poltrona de ônibus
Deisiane Barbosa, Graduanda em Artes Visuais
pela UFRB. Cachoeirana, nômade, escritora de fios, performer-brincante,
ensaiando para fotógrafa e pretensa videasta
Uma hora se cansa e o
pescoço pede sossego, porque não só ele, mas todo o corpo reclama de estar
eternamente sentado. O que pode-se então fazer? Como se remediar? Meu caro,
minha cara, cuja densa cabeleira reclama da rispidez das poltronas, não há
jeito mesmo, conforme-se, guarde a vaidade no bolso, perdoe seu pescoço,
relaxe, contenha-se, acalme-se. Ao término da viagem, se você for muito sortudo
pode ser que uma só sacudida resolva. Um desamassa aqui, desamassa ali, pra
ficar bom. Por outro lado possa ser que só depois de recorrer a um espelho, um
pouco de umidade e creme de pentear a coisa se resolva. Nesse caso, porém, até
conseguir um espelho o que fazer senão se expor com a insegurança, a impressão
tenebrosa de que seu cabelo está medonhamente amassado? Só os que sofrem me
entenderão. Mas acreditem, um dia a coisa é superada, um dia quem sabe até
adaptem as poltronas para os cabelos mais exigentes. Eis uma esperança na qual
agarrar-se. Até lá porém, entregue-se às poltronas de ônibus, não resista tanto,
deite e role. E se amassar? Paciência. E se bagunçar? Paciência! “Levante,
sacode a poeira e dá a volta por cima”.