quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Texto no cabide: Se eu fosse de papel


Descobri que não sou feito de papel.

Não sei do que sou feito, mas sei que é de algo mais resistente que um papel.

Se eu fosse de papel, estragaria com o primeiro banho de chuva, com a primeira lágrima, com a primeira pisada na poça de lama. Confesso que nos banhos demorados cheguei a enrugar como papel, mas só por questão de minutos.

Se eu fosse feito de papel, estragaria muito mais com as palavras malditas, com os rabiscos invejosos, com as salivas respingadas, das críticas disfarçadas.

Ah, se eu fosse de papel, estaria a disposição para encobrir as sujeiras dos outros, ou talvez seria rasgado com o primeiro projeto fracassado.


Sou feito de algo mais resistente que papel, disso eu sei, porque se eu fosse feito de papel, ficaria apenas esperando alguém chegar e escrever a minha trajetória, mas como não sou feito de papel, sigo em frente, com o direito de tentar escrever minha própria história.

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