Tentando controlar a barulhenta respiração eu empurrei a porta, acompanhado de um leve ranger que penetrava meus ouvidos de forma agressiva. A loja parecia estar vazia. O silêncio era interrompido a cada três segundos por pingos de água que caiam da gaiola do pequeno pássaro que estava com os olhos fechados. Num insignificante descuido a chave que estava presa em minha mão cai ao chão. O pássaro assustado canta como se estivesse avisando que um estranho havia chegado.
Do
balcão, escondido, ele gritou:
-
Posso ajudar em alguma coisa meu jovem?
- Apenas vi que na vitrine tinha velas a venda, eu disse.
- Apenas vi que na vitrine tinha velas a venda, eu disse.
-
Problemas com energia outra vez?
- Na
verdade não, prefiro escrever a luz de velas quando já é madrugada.
O
velho levantou de onde estava, erguendo-se em direção a uma prateleira do lado
direito. Enquanto isso acontecia, eu andava lentamente entre a loja. Em seguida
sem nenhum contato visual eu falei para ele:
-
Se importaria se eu levasse as velas da vitrine? Não que eu seja chato, mas...
-
As velas da vitrine estão empoeiradas e há um bom tempo ali expostas. Não vejo
vantagens nisso.
-
Eu sei. Só queria as velas que vêem as pessoas da rua passar.
-
Já que insiste tanto, porque não pega você mesmo?
Me
aproximei do balcão, peguei as chaves da mão dele e fui em direção a vitrine.
Um gato de olhos bem brilhantes se esbarrou e entrelaçou entre minhas pernas.
Tentando me equilibrar, sorri, e me engrandeci por não ter levado uma queda.
-
O que é isso Nino, quer derrubar o moço? O velho Francisco falava, acariciando
o gato que agora já estava sobre o balcão balançando o rabo suspenso.
Velas
a mão, insisti em continuar olhando em toda a loja. Algo me chamou atenção
antes de qualquer objeto que pudesse comprar ali. Ele, Sr. Francisco em um tom
de voz ameaçador perguntou:
-
É tudo isso que precisa?
Com
olhares desatentos para os lados eu disse, sem hesitar:
-
Não. Preciso de algo mais.
-
Então, o que deseja?
-
Peço-lhe que me conte, por que guardou esse segredo por tanto tempo?
Ele
arregalou os olhos, engoliu com dificuldade a saliva, respirou fundo e não
falou mais nada. Depois de algum tempo quieto e assustado ele questionou?
- Quem é você? Do que você está falando?
- Quem é você? Do que você está falando?
Sorri
como quem sabia de muitas verdades, me ergui até a gaiola onde estava o
pássaro, e o libertei da prisão. Em seguida, em tom sarcástico eu falei:
-
Você já deveria ter feito isso há muito tempo, não acha? A liberdade é uma das
melhores coisas que um homem pode ter, e melhor ainda quando é acompanhada de
uma consciência livre. Vejo que o seu caso é bem diferente.
Francisco
tangeu o gato que estava no balcão, e se aproximou com dificuldade até onde eu estava,
no meio da loja, olhando para um espelho. Nós ali estávamos, os dois olhando
para a imagem que refletia, ambos buscando comparações que talvez estivessem ali
escondidas entres as rugas e a dor.
As
lágrimas desceram dos meus olhos quando perguntei:
-
Por que nunca quis me conhecer pai?
Não
esperei a resposta, mesmo que há tempos quisesse ouvir. Segurei as velas,
limpei as lágrimas e saí dali.
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