segunda-feira, 5 de maio de 2014

Texto no cabide: O quarto

E diziam por aí, de boca em boca, que ele tinha entrado naquele quarto que ninguém antes entrou, e que havia vindo de lá quieto, aparentemente normal, mas cheio de mudanças. Tudo mudou, a forma de falar, o jeito como pensava, as expressões já não vinham em formas de palavras, elas sussurravam de forma fragilizada pelo olhar.

Ele tinha certeza do que tinha visto, e estava contente em ter sido o primeiro e único até então a descobrir o que existia dentro daquele quarto, ao mesmo tempo em que refletia sozinho com o medo, o medo de ter descoberto aquilo que levaria tempos a ser desvendado.

Já não importava mais as conversas em cada esquina da cidade, pouca importância era dada aos risos combinados de quem criticava a atitude inovadora. Ele sabia que teria que conviver com tal ignorância. Muita coisa tinha sido deixada naquele quarto, a impaciência, os apegos materiais, o choro, os preconceitos. Tudo havia se despencado como num descuido qualquer de deixar cair da mão o que restava, no entanto permanecia ainda o medo, apenas ele permaneceu, bem menor que antes, mas ainda permanece, permanecerá, como se fizesse parte do ser que ele era, ou como se fosse ele mesmo o próprio medo.

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