terça-feira, 13 de março de 2018

Tamanha ignorância não me fez perceber de imediato que ali deitado aos meus pés estava um galgo. Ele parecia um tanto assustado ou preocupado. Não sei definir bem o que ele sentia. Eu, que sempre fui um pé de oliveira, parada aqui neste lugar, jamais havia visto um galgo tão de perto. Já passaram por mim tantos outros seres diferentes, mas nunca um galgo. Olhei pra pele, e percebi que brilhava feito estrelas cadentes.
Suas pernas longas, que correram muito pra chegar até aqui, permitiam que ele me envolvesse toda, no abraço mais sincero que já vi.Me encantei de cara, e queria que ele ficasse aqui por muito mais tempo. Não estava acostumada a ter algo tão próximo, tão vivo e tão quente.
O galgo que dormia como um urso em sono profundo se transformou em um belo homem. Eu não queria acreditar no que via. Era magia, só poderia ser. Ele continuou a dormir e alguns minutos depois foi acordado por um desses Senhores ricos que perguntava incessantemente: - Você viu um galgo passar por aqui?Naquele instante tudo fazia sentido pra mim. Supus presenciar ali uma fuga. Claro que fiquei mais quietinha ainda, não queria que aquele galgo, que tomou forma humana, saísse dali. Como boa oliveira, venerei seu sono, imaginei seus sonhos, e tentei espantar qualquer inseto que quisesse perturbar.
Na manhã seguinte, num cochilo por descuido, ele se foi, e agora espero o dia em que poderei encontrá-lo outra vez.

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