Pedro, quando eu
sentava na mesa de manhã cedo pra te acompanhar no café era simplesmente pra
ver tua barba branca, alvinha feito espuma de leite, se sujar com o amarelado
da banana cozida. Eu gostava de todo o seu ritual cotidiano de rezar antes de
tomar o café e lavar as mãos e barba na bacia verde que ficava ao lado do
filtro. Minha mãe já havia dito que não precisava fazer o sinal da cruz no rosto
pra se proteger, mas eu olhava disfarçadamente pra você, pra ver sua mão
flácida se benzendo e sua boca balbuciando palavras nunca decifradas por mim.
Lembro com nitidez da sua imagem, do seu jaleco e do chapéu de couro, de você
entrando pra casa quando o sol se punha, ajudado por um cajado de madeira.
Pouca coisa eu
entendia e pouco entendo até hoje. Achava engraçado te ver cheirando uma pitada
de fumo, com espirros em seqüência. Não sei bem se o fumo lhe fazia mal, mas eu
gostava do cheirinho que ele deixava no jaleco marrom. Ele me fazia lembrar das
histórias sobre lobisomens que você contava, você descrevia minuciosamente a
cena. Recordo sobre as rezas a noite, as senhoras sambadeiras, as casas de
farinha e o sinal da cruz livrador.
Posso chorar agora??
ResponderExcluirLindas lembranças lucas..