terça-feira, 23 de maio de 2017

Texto no cabide: Zoé, uma cidade girassol



Quando avistei a cidade de Zoé, fiquei louco. A sensação era de descoberta, entusiasmo e afeto múltiplo por todo o corpo. De longe parecia ser um lugar incrível, o verde tomava todo aquele espaço rodeado de montanhas. Fiquei encantado com a plantação de girassóis na entrada da cidade. Já tinha ouvido falar sobre Zoé em um dos livros de Ítalo Calvino "As cidades invisíveis", mas não tinha conseguido perceber através dos escritos tamanha beleza daquela cidade.
Cheguei de barco, com uma mochila nas costas, um par de sapatos desgastados do tempo, me instalei em uma daquelas pousadas próximas de lindas estátuas de mulheres gordas feitas por uma artista da cidade. Era incrível ter como ponto de referência aquelas belíssimas esculturas a céu aberto. Me encantei por Zoé, estava perdidamente apaixonado pela calmaria que aquelas ruas me traziam pelo simples fato de andar errante, de coração aberto para o que aquela cidade iria me contar. Sim, cidades são pessoas, corpos percorridos por amantes inquietos, que se permitem a experiência de caminhar e ser afetado.
Minhas manhãs eram sempre invocadas. A sensação que eu tinha, quando acordava, era que a cidade permanecia em sentinela nas minhas horas de sono. O sol batia forte na minha janela, e era como um convite de quem feliz estava pela presença do forasteiro. Só naquelas manhãs entendia o porquê dos girassóis tão alegrinhos na entrada da cidade, nos arredores e quintais das casas. Isso mesmo, descobri em poucos dias que Zoé era repleta de girassóis. Decidi em duas semanas que queria morar lá, ter filhos e construir minha vida longe de toda tristeza que o passado já tinha me revelado. Já estava decidido, minha casa teria girassóis no quintal, bolo e café na cozinha. Na sala uma pintura que fiz em uma oficina de aquarela.
A feira de Zoé era repleta de coisas incríveis. Claro que me engracei logo pelo bolo de chocolate no pote, vendido por uma daquelas senhoras que se dedicava intensivamente a gastronomia. As barracas da feira sempre eram coloridas, mas a cor amarela predominava nos extremos. Seria aquela cidade, em seu formato no mapa, um lindo Girassol? Não tenho dúvidas de que pelo menos fortes semelhanças teria com essa flor tão intrigante.
A cidade tinha um cheiro que impregnava em meu corpo e minhas roupas. Era um cheiro que memorava tudo de bom que vivi em Zoé em fão pouco tempo que estava instalado por lá. Lembro que semanas antes de descobrir a cidade que tanto me encantava, sonhei que atravessava um rio de barco, acompanhado por alguém que remava, chegava a uma ilha, com casas simples. Uma mulher com um recipiente nas mãos vinha em minha direção e se apresentava, seu rosto não se revelava, nas mãos tinha uma espada. Aos arredores cavalos brancos se esbanjavam no verde beira-rio. Esses sonhos parecem sempre ser percepções do que sucederá, e de fato foi, ou talvez eu simplesmente tenha interpretado dessa maneira.

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